O que é EBITDA? Entenda o indicador e quando utilizá-lo

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16 Min leitura

Quando procedemos à análise financeira de uma empresa e tentamos avaliar qual o seu desempenho, existem vários indicadores financeiros que nos auxiliam a aferir a sua rentabilidade. São inúmeros os indicadores e condições que estipulam se uma empresa poderá ou não representar um bom investimento, sendo da responsabilidade do investidor saber quando e como utilizá-los dependendo do objeto de análise em questão. 

Um destes indicadores é a EBITDA. Neste artigo analisaremos o que é EBITDA, quais as vantagens e desvantagens da sua aplicação face a outros indicadores financeiros, como e quando deverá utilizá-la e quais os cuidados que deverá ter ao empregá-la. O que é a EBITDA?

EBITDA - O Que é ?

A EBITDA (Earnings Before Interest Taxes Depreciation and Amortization) é um dos principais indicadores financeiros associados tradicionalmente a empresas públicas, desempenhando a função de avaliar a sua rentabilidade financeira geral. A EBITDA é representante dos lucros dessa mesma empresa antes destes serem sujeitos a juros, impostos , depreciações e amortizações.

Tornou-se popular na década de 80, quando a aquisição de empreendimentos por empresas com maior capital se tornou moda. Devido à natureza da EBITDA, era possível à empresa adquirente aferir se a empresa que iria comprar era rentável operacionalmente, necessitando somente de uma reestruturação interna a nível financeiro.

A EBITDA é geralmente utilizada por empresas e/ou investidores que desejem aferir à rentabilidade de uma empresa “em vácuo”, uma vez que o indicador despreza fatores como os juros sobre empréstimos devidos por uma empresa, a desvalorização dos seus bens ou as tabelas de impostos a que a empresa esteja sujeita (variando estas radicalmente de ramo para ramo e de país para país).

Eis uma clarificação do que significa o acrónimo EBITDA:

Earnings/Lucros: Os lucros líquidos de uma empresa. 

Before/Antes de: Exclusão de certos fatores da equação. Uma vez que estes mesmos fatores já haviam sido excluídos ao montante dos lucros líquidos, a EBITDA torna a considerá-los. Isto torna a EBITDA, regra geral, um montante superior ao valor de ganhos líquidos.

Interest/Juros: Os juros são excluídos da equação uma vez que são referentes à gestão/estruturação da dívida de uma empresa. Embora os juros possam ser reveladores da qualidade de decisões financeiras da empresa e de qual a sua credibilidade, não são necessariamente relevantes para determinar a rentabilidade operacional da mesma.

Tax/Impostos: Todos os impostos, sejam de natureza federal, estatal, local, nacional ou mesmo internacional. Os impostos são determinados pela localização da empresa e não são representantes da viabilidade ou rentabilidade da empresa.

Depreciation/Depreciações: As depreciações variam na sua importância, dependendo do ramo empresarial do empreendimento em questão. Empresas que detenham muitos bens físicos, sujeitos a desgaste pelo uso e, por conseguinte, sujeitos a eventual substituição, contemplam valores de depreciação mais elevados. Em contraste, empresas que comercializem ou desenvolvam património intelectual enfrentam depreciações muito menos significativas. Independentemente do tipo de negócio/empresa, as depreciações são um indicador dispensável na avaliação dos lucros operacionais de empresas.

Amortization/Amortizações: As amortizações de dívidas em que a empresa tenha incorrido, a ser pagas de acordo com um plano pré-acordado entre a mesma e a entidade financiadora. Não sendo, uma vez mais, relevantes para a análise da rentabilidade estritamente operacional de uma empresa.

Em suma, a EBITDA consiste na soma dos ganhos líquidos de uma empresa com os juros sobre empréstimos, impostos, depreciações e amortizações. Pode ser utilizada para analisar e comparar rentabilidade entre empresas(em particular se operarem no mesmo ramo de atividade), tendo em conta que desconsidera o impacto dos seus financiamentos e gastos de capital. 

A EBITDA é frequentemente utilizada em tabelas de avaliação e estabelece um paralelismo entre o valor de uma empresa e a sua receita, embora não esteja contemplada nos chamados GAAP (Generally Accepted Accounting Principles), e a sua presença não seja obrigatória nos relatórios trimestrais/anuais divulgados por empresas cotadas em bolsa de valores.

O valor de EBITDA é obtido à custa da seguinte fórmula: 

EBITDA = Lucros Líquidos + Juros + Impostos + Depreciação + Amortização

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EBITDA vs. outros indicadores

A EBITDA não está albergada sobre a denominação GAAP (generally accepted accounting principles) na qualidade de medida de desempenho financeiro. Sabendo isto, o seu cálculo poderá variar em função da empresa que a divulga, ou poderá mesmo não ser divulgada de todo. 

Por outro lado, não é incomum que certas empresas enfatizem os seus valores de EBITDA em prol dos seus ganhos líquidos; sendo o seu “cálculo” muito menos linear e mais flexível, podendo desviar o foco da atenção dos investidores de outros problemas nas declarações financeiras de uma empresa. Um alerta de peso para investidores poderá mesmo passar pelo constatar de que uma empresa opta por destacar os seus valores de EBITDA em relatório de contas, em especial se não o vem fazendo tradicionalmente

Isto poderá ocorrer quando uma empresa recorra a elevados empréstimos ou esteja a atravessar um período em que os seus custos de desenvolvimento se acentuam. Sob tais circunstâncias, recorrer exclusivamente ao valor de EBITDA poderá levar investidores a tirarem conclusões precipitadas, ou mal informadas, sobre a robustez financeira de um empreendimento.

  • EBITDA vs Ganhos Líquidos

Ao analisar o estado financeiro de qualquer empresa, a justaposição destes dois indicadores financeiros constitui um ponto-chave na recolha de informações úteis e fiáveis. Um investidor deverá sempre efetuar uma comparação entre o valor de EBITDA e o total de ganhos líquidos para obter uma perspetiva do modus operandi e rentabilidade de uma empresa.

A obtenção dos ganhos líquidos de uma empresa em determinado período é de natureza diametralmente oposta à fórmula da EBITDA, e é conseguida à custa da seguinte fórmula: 

Ganhos Líquidos = Ganhos Brutos* –  Despesas Financeiras (Juros + Impostos + Depreciação + Amortização)

*Ganhos brutos, lucro de vendas ou lucro operacional bruto é a diferença entre o valor faturado e o custo de conceber um produto ou prover um serviço, antes de quaisquer outras deduções.É o rendimento remanescente, uma vez deduzido os custos que surjam exclusivamente relacionados com o dito rendimento.

O valor da EBITDA confere ao investidor uma noção de quanto lucro uma empresa gera com base assente no grau de eficiência da linha de produção desta. Já os ganhos líquidos conferem uma perspetiva considerada “final” do quão rentável é a empresa. 

O valor de ganhos líquidos é utilizado para calcular o valor de PER (price per earnings ratio) de uma empresa. Simplificando, o PER de uma empresa relaciona o preço das suas ações com o total de lucros da mesma, dividindo o total de lucros de um período pelo total de ações emitidas publicamente.

  • EBITDA vs. EBIT vs. EBT

A EBT e a EBIT são variações da EBITDA, com a qual mantêm uma relação bastante próxima. A mera inibição de certas parcelas representantes de encargos financeiros de uma empresa, dependendo da natureza desta, poderá ser bastante útil e informativa para investidores. 

A EBIT (Earnings Before Interest and Taxes) é não mais do que os ganhos líquidos de uma empresa, anteriores à dedução de impostos e juros sobre empréstimos. A EBIT é empregue para analisar a rentabilidade das operações que constituem o cerne de uma empresa, sem que deduções de impostos ou fatores decorrentes de estruturamento de capital influenciem estes valores, ou seja, estes valores são novamente adicionados aos ganhos líquidos do período a contemplado:

EBIT = Ganhos Líquidos + Impostos + Juros

A EBT (Earnings Before Tax) reflete os lucros gerados por uma empresa antes de estes serem sujeitos a impostos. A EBT é calculada adicionando aos ganhos líquidos de uma empresa o valor deduzido por impostos. Ao remover flutuações oriundas de impostos, os investidores conseguirão avaliar a performance de uma empresa eliminando assim variáveis que estejam fora do controlo desta. 

O valor de EBT é particularmente útil na avaliação de empresas dos EUA devido às pronunciadas diferenças em regimes de imposto de cada estado e a sua fórmula é obtida da seguinte forma:

EBIT = Ganhos Líquidos + Impostos

  • EBITDA vs. Lucro Operacional

O argumento mais frequentemente badalado contra a aplicação da taxa de EBITDA enquanto único indicador de performance financeira de uma empresa, é a de que o indicador desconsidera alterações de capital nos fundos operacionais. Esta noção de liquidez da empresa oscila em função de juros, impostos e outros gastos de capital inerentes ao funcionamento de uma empresa. 

Enquanto que um valor de EBITDA negativo significa geralmente que uma empresa tem problemas a nível de rentabilidade, um valor positivo de EBITDA não é necessariamente indicativo de que as contas de uma empresa sejam “saudáveis”, uma vez que tanto impostos com juros são valores que a empresa tem que considerar no final do dia. 

Em contraste, uma empresa poderá ter uma baixa liquidez (em especial se os seus bens forem de difícil conversão para capital) mas, não obstante, manter altos níveis de rentabilidade. A EBITDA poderá também apresentar uma imagem distorcida de quanto capital disponível existe para que uma empresa possa saldar as suas dívidas atempadamente, assim como poderá “desconsiderar” os intervalos de tempo para a depreciação dos seus produtos, inflacionando assim as suas projeções de lucro aos olhos de investidores. 

Os lucros operacionais são por vezes iguais ao valor de EBIT, mas nem sempre é o caso.

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EBITDA - Como e Quando utilizar

Conforme referido, a EBITDA não constitui um indicador financeiro de divulgação obrigatória por parte de empresas, e poderá por conseguinte ser utilizado intencionalmente por forma a obscurecer a verdadeira rentabilidade de uma empresa.

Não desmentindo a existência de casos em que a EBITDA seja um indicador por excelência da rentabilidade de uma empresa, esta nunca deverá ser tida em conta como indicador único do valor da mesma, devendo portanto, ser utilizada em conjugação com outras variáveis. 

A EBITDA é preferencialmente, e frequentemente, utilizada por empresas que se encontram em fase embrionária/start-ups, por empresas com elevadas dívidas por saldar e/ou por empresas detentoras de bens muito dispendiosos. Em particular, as start-ups, que exigem investimentos “à cabeça” para que possam providenciar lucros futuros, são propensas a utilizar o indicador de EBITDA.

A EBITDA é especialmente útil para uma comparação mais “direta” entre uma empresa e os seus competidores em mercado, pois despreza fatores e encargos que divirjam do seu controlo direto e custos operacionais. É também útil para aferir padrões da indústria e tendências macroeconómicas.

  • Margem de EBITDA

Um método fidedigno de calcular realisticamente o perfil de rendimentos de uma empresa é a margem de EBITDA. A margem de EBITDA evidencia qual o impacto de encargos operacionais de uma empresa nos lucros em bruto da mesma empresa. Em última instância, quanto mais elevado for o valor da margem de EBITDA, mais segura financeiramente poderá ser considerada uma empresa.

Margem de EBITDA = EBITDA / Receita Total

Digamos, por exemplo, que a empresa X detém uma EBITDA de 500 mil euros e uma receita total de 5 milhões de euros. Portanto, a sua margem de EBITDA será calculada da seguinte forma:

500000/5000000 = 10% 

A margem total de EBITDA será de cerca de 10%.

Uma margem de EBITDA considerada financeiramente saudável colocará a empresa na casa dos 10-15%. O índice S&P 500 conta, entre as empresas que o constituem, com valores de margem de EBITDA entre os 11% e os 14%, sendo esta considerada a referência da indústria.

  • Como não utilizar a EBITDA - exemplo real

A utilização imprópria de fórmulas de EBITDA, por forma a obscurecer dificuldades de uma empresa, é uma garantia de causar danos à marca e às suas relações com clientes/investidores. 

Embora em última análise seja sempre da responsabilidade do investidor quais os indicadores financeiros que deve aplicar em cada situação, existem casos em que a EBITDA/margem de EBITDA podem ser utilizadas de forma dissimulada, requerendo atenção redobrada e literacia financeira para aferir à legitimidade de empreendimentos.

Analisemos o exemplo da Petrobras:

Em março de 2017, a Petrobras divulgou os seus resultados financeiros referentes ao último trimestre de 2016. Entre os dados, encontra-se a EBITDA da empresa e sua evolução ao longo do ano fiscal. Porém, antes de considerarmos a sua EBITDA, é importante contextualizar os resultados e sinalizar a importância de outros indicadores.

No consolidado de 2016, a Petrobras teve um prejuízo líquido de 14,824 biliões de reais, totalizando o terceiro ano consecutivo de prejuízos para a estatal, que havia estipulado um valor de prejuízos de 34,8 biliões em 2015 e de 21,6 biliões em 2014. 

Em contraste, no último trimestre de 2016, a Petrobras teve lucro de 2,5 biliões de reais, após um prejuízo de 16,4 biliões de reais no terceiro trimestre. A estatal explicitou os motivos para os prejuízos recentes (reavaliação de ativos) e comunicou a redução do seu endividamento, que teve uma queda de 20% desde o final de 2015 (392 biliões de reais) face ao final de 2016 (314,2 biliões de reais). A somar-lhe, a publicação previu mais um ano sem pagamento de dividendos aos acionistas, já que as suas contas ainda não o permitiam.

Por fim, a informação que aguardávamos: a EBITDA. Esta foi de 24,8 biliões no quarto trimestre e de 88,7 biliões em 2016, mostrando um crescimento de 16% em relação a 2015.

Este é um excelente exemplo de como não devemos focar-nos exclusivamente no valor de EBITDA de uma empresa. Considerando apenas esse indicador, a Petrobras estaria de parabéns e parecia evidenciar um crescimento saudável e bem sustentado. 

Mas considerando a sua dívida de 314,2 biliões à época? Figurava entre as mais altas para empresas de todo o mundo, e denotou uma melhoria de 2015 para 2016 principalmente porque era em dólar, que caiu de cerca de 4,00 reais para pouco mais de 3,30 reais no período contemplado.

EBITDA - Conclusão

Como qualquer outro indicador, a EBITDA é de utilidade relativa e não deverá nunca ser utilizada como fator único na análise da sustentabilidade/rentabilidade de qualquer modelo de negócio. Por forma a obter uma uma imagem satisfatória e holística do estado financeiro de uma empresa, a EBITDA não bastará; são muitos os fatores que influenciam qual o comportamento dos mercados, sendo que a maioria é de natureza humana e, por conseguinte, impossível de reduzir a um único número. 

Tudo é útil para quem sabe utilizar, mas se identificar empresas extraordinárias se resumisse à análise de um simples dígito, todos os investidores em bolsa teriam sucesso e deixaria de existir a necessidade para a consultoria de analistas profissionais. Sabemos que a realidade discorda em ambos os casos. Ao negociar seja exaustivo na sua busca e emprego de indicadores financeiros como a EBITDA.

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